Pesquisadores identificam e acompanham o desenvolvimento de um importante precursorde célula dendrítica
Por Cristina Caldas
Até bem pouco tempo atrás era difícil imaginar que a imunologia um dia disporia de tantas ferramentas para acompanhar tão precisamente o desenvolvimento dos mais diversos tipos celulares, por meio de vídeos e imagens que sempre impressionam (espetaculares!). Foi por meio desses filmes que pesquisadores do grupo do imunologista Michel Nussenzweig, da Universidade de Rockefeller, em NovaYork, acompanharam o desenvolvimento, in vivo, de um precursor de células dendríticas (DC) por eles identificado. Seguindo passo a passo o precursor pre-cDC, desde a medula óssea até cair nas redes de DC nos linfonodos, o trabalho rendeu aos pesquisadores a capa da prestigiosa revista Science, do último dia 17 de abril
Por conta da diversidade funcional e fenotípica dos subgrupos de DC, o contexto no qual o trabalho se insere é complicado, dizem os autores. Embora outros precursores já haviam sido descritos, como MDP (macrophage and DC precursor), CDP (commom DC precursor) e o próprio pré-cDC, restrito à linhagem cDC (classical spleen DCs), não se sabia ainda qual era a relação entre tais precursores, nem tampouco onde ocorria a separação das linhagens de monócitos, DC plasmocitoide (pDC) e cDC.
Procurar os precursores nos diversos órgãos foi o primeiro passo. Acharam MDP e CDP apenas na medula óssea e nem sinal destas células na corrente sanguínea e no baço. No entanto, usando um coquetel de marcadores de superfície (incluindo Flt3) e camundongos que expressam GFP sob o controle do promotor do gene CX3CR1, encontraram pré-cDC na medula (0,2%), corrente sanguínea (0,03%), baço (0,05%) e linfonodos (0,03%). Para avaliar se as pre-cDCs assim identificadas originariam cDCs in vivo, os pesquisadores realizaram experimentos de transferência adotiva, tanto de medula não fracionada quanto de pre-cDCs isoladas. Observaram que medula não fracionada deu origem a cDCs, pDCs e monócitos, enquanto que pre-cDCs isoladas de qualquer lugar (medula, sangue ou baço) originaram predominantemente cDCs. Segundo os autores, esses dados indicam que pre-cDCs são precursores de cDCs que surgem na medula.
Partiram em seguida para experimentos de parabiose (veja Box), testando a hipótese de que as pré-cDCs são precursores com baixa meia-vida, o que refletiria em uma troca incompleta entre os camundongos parabiontes. Foi o que aconteceu. Concluíram que as pre-cDCs surgem de progenitores na medula e viajam pela corrente sanguínea até órgãos linfóides periféricos, onde se diferenciam em cDCs.Por meio de experimentos de transferência adotiva, injetando na medula óssea progenitores purificados e acompanhando suas diferenciações ao longo do tempo, os pesquisadores observaram que a expansão das pre-cDCs ocorre na medula e, após diferenciação em cDC nos órgãos linfóides, estas sofrem divisão celular.O destino e distribuição das pre-cDCs nos órgãos linfóides foram avaliados por meio de microscopia de varredura a laser multi-fóton. As pre-cDCs transferidas foram rastreadas ao longo do tempo e, com o auxílio de microscópios que enxergam cada vez mais profundamente, foi possível reconstruir o linfonodo e marcar, uma a uma, as células de interesse. Assim, Tanja Schwickert e o imunologista brasileiro Gabriel Victora produziram a imagem da capa (veja o vídeo).
Resumidamente, as imagens mostraram que até cinco horas após a transferência, as pre-cDCs se encontravam perto de vasos sanguíneos com morfologia típica de HEVs (high endothelial venules), no lado medular do linfonodo e na interface zona T e folículos B. Neste momento, permaneciam praticamente imóveis, exibindo pouquíssimo deslocamento. Entre 16 e 18 horas após a transferência, pre-cDCs e sua progenia continuavam se localizando em áreas ricas em vasos. No entanto, não se encontravam mais grudadas aos vasos sanguíneos e apresentavam comportamento mais migratório. Passados seis dias da transferência, a progenia de pré-cDCs se distribuia ao longo do paracórtex do linfonodo, integrada à rede de célula dendrítica. Já apresentavam morfologia de célula dendrítica, movimento restrito e baixa velocidade de deslocamento.O último bloco de experimentos do trabalho mostrou que células T reguladoras (Treg) controlam a expansão das cDCs nos órgãos linfoides periféricos, controle este dependente da Flt3.Entender de forma detalhada o desenvolvimento e homeostase dessas células “abre a possibilidade de expandir ou reduzir os números de DC em vacinas e outras condições clínicas”, concluem os cientistas.
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